domingo, 7 de fevereiro de 2010

Insônia


Desenvolvi recentemente uma péssima mania de acordar de madrugada e vagar pela casa. O problema é que as madrugadas não oferecem muitas atrações quando se deixou de gostar de televisão, ou desgostar o suficiente para não querer ficar babando às quatro da madrugada com controle remoto na mão. Não aguento mais ler. Minhas lentes devem ter progredido um meio grau só depois das correções de provas de dezembro, destas férias estudiosas (14 livros lidos e fichados) e dos diversos muitos artigos que tenho revisado para congressos etc etc. Quanto à rede mundial de computadores que funciona ubiquamente, tenho observado mudanças sérias na minha forma de ver noticiário pós-internet. Tornei-me um viciado no instantâneo e quero as informações acontecendo profusamente, segundo a segundo. E elas realmente acontecem: temos uma legião de big brothers e outros quetais fazendo coisas o dia e a noite inteiros pra que o pessoal do outro lado do monitor observe. Mas de madrugada não temos jogos de futebol. As finanças mundiais ressonam em algum lugar, já que os cofres estão fechados. Algum assaltante especializado deve estar cavando túnel em algum lugar neste momento, mas isso ainda não é notícia. Ouça: uma sirene passa acelerada no meio da noite. Ambulância? Carro de bombeiros? Melhor ligar a internet para ver as notícias da hora.

***

Deixamos o filho Número Um solto livre e lépido pelo hotel-de-praia-nos-cafundós-da-bahia na quarta à tarde para uma leve pestana depois do usual exagero no almoço. Um espírito Hardy Har-Har (a hiena chorante) baixou em mim: "isso não vai dar certo". Uma hora depois batem na porta do quarto: seu filho pisou num cacto lá na praia. Quando cheguei à enfermaria encontrei três monitores e um coitado dum hóspede médico com uma pinça na mão e uns 20 espinhos tirados e colocados ao lado do meninão de 40 kg e olhos vermelhos, fora o berreiro. Duro ser pai em férias nos cafundós da Bahia: nem pronto socorro tem pra gente visitar (se bem que um hotel metido a gente-fina poderia ao menos ter um enfermeiro de plantão). Quase infarto, mas meia hora depois o Mr. Paliteiro-nos-pés (sim, ficaram dezenas de espinhos, pequenos, a retirar mais tarde) estava saltitante na piscina e no dia seguinte jogava bola e manquitolava na quadra. Faz parte de ser criança: pisar em cacto e jogar bola depois. (Clique na foto acima e observe o curativo no pé esquerdo para ver se num é verdade). O corajoso infante voltou a SP com visita marcada no pronto socorro, o que se deu ontem, depois de intensas negociações. Entramos às 15h30. Saímos às 19h30, depois de 3 doses de soníferos, chutes em enfermeiras e na coitada da Dra. Paula (muito simpática e entretida no seu esforço caça-espinho), uma vontade paterna de cometer infanticídio e aliviados de umas 30 pequenas pontas de cacto importadas e transportadas desde a Bahia. Ainda faltam umas 20, mas essas aparentemente serão expelidas por conta própria. Ou não. Neste caso o método papai-tá-puto entrará em ação. Mamãe, me passe o estilete.

5 comentários:

Unknown disse...

Além dos espinhos no filhão as pontas dos seus dedos (agora dedos do Josmar) devem estar sangrando...

Fê Farah disse...

Estou lendo o blog aos poucos e dos espinhos nos dedos ao Tesão da Transamérica estou me divertindo. Não que os espinhos sejam divertidos, mas eu adoro as palavras e a relação delas com conteúdo. Achei muito bacana.

Unknown disse...

INSÔNIA/PESADELO
Esse garoto é um herói,consegui contar 72 espinhos,fora os que sobraram......Descobri seu blog só hoje, estou adorando tem de tudo um pouco.

Olhar... disse...

Hahahaha!
Adoro esse amor paterno!
Essa dúvida entre 'eu te adulo ou te dou uns tapas' é tão real!
E contada por vc fica parecendo aquelas férias que o Pateta tirava e onde dava tudo errado.. rsrs
Ái ái...daqui uns tempos sou eu...
Abraços.

Unknown disse...

Hahahahha, juro! meu dia estava péssimo, cheguei as 8:00, bato o meu ponto às 8:30, mas CLARO, esqueci de descer e por o dedo na máquina que me dá bom dia! Resolvi ler o seu blog antes de me enfiar num manual de feira! ADOREI! Estou rindo e me sinto mais leve! Adoro suas palavras e a forma de contar um caso um tanto triste...saudades!