sábado, 4 de junho de 2011

Querida Presidenta Dilma

Como vai?  Queria dar uns palpites na sua política, falar do Palocci, mas antes de mais nada acho importante esclarecer alguns pontos.
Porque quero deixar claro que não votei na senhora, porque não gosto muito das práticas do grupo político que a cerca, apesar de ter de reconhecer que a opção que nos foi apresentada não era bem uma opção. Ô partidinho ruim, esse tal de PSDB, com seus caciques que não têm a menor idéia do que seja eleitor, que não têm claramente uma proposta política a não ser: Aécio, Serra ou Alckmin? Quem faz política a partir de nome de candidato, fica refém de vaidades pessoais e não arregimenta seguidores de idéias e valores.
Quanto ao PT, sabe como é, aquelas histórias lá do mensalão, do dinheiro na cueca, dos aloprados, dos filhos do ex-presidente e suas ligações com a Brasil Telecom, das consultorias do Zé Dirceu pro Carlos Slim, sempre me incomodaram. Não porque o PT seja diferente do resto que está aí, mas especialmente porque é igual. Fico um pouco triste pelos muitos amigos que tenho e que acreditam no Partido porque eu também, lá pelos idos de 81, quando era um universitário recém chegado em São Paulo, fiquei deslumbrado com o ideário de um partido honesto, comprei e usei brochinhos com as estrelinhas e vibrei muito com a eleição dos primeiros deputados, dos primeiros prefeitos. Mas depois, pouco a pouco, fui me afastando porque comecei a perceber que alguns poucos estavam ganhando muito com a boa vontade alheia. E que em algumas questões, ideologicamente, eu não me alinhava com as propostas da galera.
Bem, isso é coisa democrática, não é mesmo? Porque apoiar ou combater propostas é típico de um mundo no qual não devem existir visões únicas ou pratos prontos; em que a gente pode debater idéias, ganhar eleições, perder eleições, e com essa alternância de poder a gente vai evoluindo como país. Agora a senhora é presidente (ou presidenta, como prefere). Logo, a senhora comanda o Estado e deveria ter uma visão que está acima de todos e que deve governar para todos, não importa se tenha mais ou menos cabelo, se freqüente esta ou aquela religião, se goste ou não goste da senhora.
Como disse, não votei na senhora, mas reconheço que seus primeiros meses de governo me surpreenderam positivamente. Taí: um monte de coisas que foram propostas e encaminhadas seriam exatamente como eu faria. Veja só um exemplo: o aeroporto de Cumbica. Temos lá um engarrafamento de aviões, um caos que só tende a piorar na medida em que mais concidadãos conseguem comprar passagens e viajar. Como resolver isso? Com baixa capacidade para investimentos por parte do Estado, um sistema viciado de concorrências, empreiteiras e políticos? Isso não funciona, a gente já sabe. Melhor fazer como a senhora propôs no mês passado: vamos fazer uma parceria público-privada e mandar bala. Porque coisas assim não podem esperar. Se o Brasil, pobrezinho, complicadinho, arruma 1 bilhão para fazer um estádio para a Copa pela vontade daquele que a gente bem sabe, porque não podemos usar essa mesma energia , digamos construtiva, para resolver coisas tão importantes como aeroportos e estradas?
Aliás, eu, se fosse a senhora, me afastaria da mesquinharia partidária, aproveitaria que ninguém dava nada por mim antes da posse e começaria um governo especial, para entrar na história. Não como uma primeira mulher presidente, como foi repetido infinitamente na campanha. Mas como um ser humano competente, patriota, incomodada com a miséria, com a violência, com a corrupção, com o atraso, com a  burocracia. Que grande chance, não é mesmo? Se os enfrentamentos fossem duros (e tenho certeza que seriam), o povo estaria do seu lado. E povo aí falo de uma forma ampla: povo no sentido de povo brasileiro, sem distinção de classe social, região, religião ou simpatia partidária. Porque, veja bem, o povo brasileiro do qual eu venho, tem grande apreço a valores como a coragem e a honestidade. E um efeito do governo de seu antecessor  é, ao mesmo tempo, sua maior oportunidade: o antigo presidente bagunçou o sistema partidário e, ao transferir o poder, lhe deu a oportunidade de refundar a política. Eu penso nela de forma plural, cujo foco poderia ser, por exemplo, de um lado pessoas honestas e do outro pessoas desonestas. Sim, porque eu acredito que existam pessoas honestas e bem intencionadas com as quais a gente poderia enfrentar essa lamaceira de Brasília. Tenho a senhora do lado das pessoas honestas, até prova em contrário.
Se tudo desse certo, lá no futuro eu ficaria muito feliz de ver meus netos andando pelas avenidas e viadutos “Dilma Roussef” que seriam inaugurados. Bem, pode me chamar de ingênuo, mas eu continuo acreditando que a senhora ainda tem uma grande oportunidade.
 Voltemos ao motivo desta cartinha: o Palocci. Que carinha complicado, não é mesmo? Não bastasse a lambança que ele fez no passado (lembra? Casas suspeitas pra políticos, violação dos dados do coitado do caseiro que confirmou a história?), lá vem o cara de novo, com mais história mal contada. Dona Dilma, quer um conselho? Aja como uma estadista. Livre-se dele. Não fique refém da situação. Sua missão tem que ser muito maior do que fechar os olhos para um sujeito que, de uma hora para a outra, ficou milionário prestando consultorias para empresas as quais se recusa a dizer o nome, que tipo de serviço prestou, quanto recebeu. Isso não cheira bem. Veja só: o cara em quatro anos fica milionário e de repente, por total altruísmo, larga toda essa riqueza, fecha a empresa e vem para o governo, levar uma vida franciscana, pelo bem do país? Putz, tem que ter muito amor à Pátria. E não combina bem toda essa dedicação religiosa ao bem da Nação, enquanto se compra apartamento de 5 milhões nos Jardins. Na minha cabeça eu sempre penso assim: quem compra apartamento de 5 milhões precisa mantê-lo. Precisa pagar condomínio, quem limpe os vidros, as contas de gás, luz, telefone, tevê a cabo. Isso custa caro. Especialmente para quem não tem mais empresa de consultoria para lhe fornecer recursos.
Bem, meu ponto é o seguinte: como diz aquele ditado muuuuito antigo, à mulher de César é preciso ser honesta e parecer honesta. No caso, esse ministro simpaticão, boa gente, não me parece capaz de parecer nem ser nada disso. Se a senhora for fiadora dele, já estraga sua oportunidade bem no comecinho. E deixa crescer o apetite daqueles todos que ficaram muito felizes com essa crise aí. Gente do seu partido que discorda do Palocci. Gente que não é de seu partido mas que vende apoio nas horas difíceis. Gente que gosta de ver a casa pegando fogo para ganhar com isso. Não sei o quanto a senhora gosta desse ex-médico sanitarista que se tornou especialista em finanças de uma hora para outra, a ponto de virar ministro da Economia e dar consultoria para o mercado de capitais. Vai por mim: mande ele pra embaixada de Roma. E toque o barco. Pense na avenida Dilma Roussef.