Meus caros colegas, pais e convidados. Queridos alunos e alunas.
Vocês não têm idéia de como fiquei orgulhoso e feliz por ter sido escolhido o paraninfo da turma de Rádio e Tevê, Publicidade e Propaganda e Editoração das Faculdades Integradas Rio Branco. É um privilégio participar desta noite especial e uma honra por representar todos os meus colegas que estiveram com vocês ao longo da jornada de quatro anos. Mas esta também é uma oportunidade pessoal. Vocês criaram a chance para que eu me despedisse da instituição que fez parte de minha vida – e vice-e-versa - nos últimos nove anos.
Como quase todos vocês sabem, desde dezembro não faço mais parte do quadro de professores das Faculdades. E confesso que, dois meses depois de sair, já estou com muita saudade da Rio Branco: uma escola séria, correta, empenhada que, tenho certeza, vocês guardarão para sempre com carinho e com orgulho. Para vocês terem uma idéia, até da secretária da sala dos professores, a Édila, eu sinto saudade!
Por sinal, hoje é sexta-feira e são nove da noite. E vocês não estão em sala de aula! Não é legal? Mas neste instante lá no campus estão os professores, coordenadores, a Édila e o pessoal de apoio, todo mundo está trabalhando... até o pessoal da cantina está lá, fazendo o melhor que pode. Podia ser um pouco mais depressa, é claro.
Lá também estão outros alunos. Alguns começando, outros concluindo. Todos eles cumprindo um ciclo que para vocês acaba oficialmente hoje.
Vocês conseguem lembrar de quando chegaram na faculdade? Aqueles que tiveram aula comigo no primeiro ano devem ter me ouvido dizer o seguinte: "aproveitem estes anos, que serão os melhores de toda a sua vida". Aproveitaram? Espero que sim. Porque esse tempo passou e vocês mudaram. Não, vocês não têm noção de como mudaram. Perguntem pra sua família, para seus amigos, para seus namorados. Eles dirão que vocês mudaram fisicamente, espiritualmente, intelectualmente. Alguns se apaixonaram, alguns viajaram, outros casaram, muitos arrumaram empregos, mudaram de penteado, perderam cabelo, engordaram, emagreceram, compraram um carro, aprenderam a dirigir, foram pra academia, mudaram o conceito sobre tantas e tantas coisas. Todos fizeram amigos que serão para sempre. E tenho certeza que vocês nem se tocaram que nos primeiros dias de aula, lá em 2007, esses caras aí, que estão do seu lado neste palco, eram completos estranhos para vocês.
Também aposto que vocês não prestaram atenção em de como o mundo mudou nesse tempo.
Nessa época, em 2007, ninguém imaginava que o Obama seria o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Muito menos que a Dilma seria a primeira mulher presidente do Brasil. Nem que inventariam esse tal de Ipad. Não prevíamos a extinção da exigência do diploma de jornalismo. Nem que falaríamos de coisas como o twitter ou o facebook. Era a época do orkut, lembram? Pouco se discutia sobre tv on demand, sobre a decadência da propaganda tradicional, sobre as novas formas das pessoas lerem, se informarem e se entreterem. Rede social era provavelmente só uma forma de descansar na varanda de casa.
Na hora em que escrevia esse texto fiquei imaginando o que vocês sentiram em dezembro, depois que leram as suas derradeiras notas no sistema. Pelo que conheço de vocês, meus alunos, deve ter ocorrido uma mistura de comemoração, alívio e vontade de ajuntar textos, cadernos, pendrives e fazer uma fogueira no quintal ou na área de serviço. Esta sensação de liberdade, de dever cumprido, de etapa vencida é a que predomina instantaneamente. "Acabou", muitos pensaram. E estou aqui para dizer que vocês estão enganados. Acabou nada, galera.
Uma formatura é muita coisa. Mas também é quase nada. Não é um documento oficial que fará vocês serem diferentes. Vocês é que devem saber que estão diferentes.
Deixem-me contar uma história: quando terminei meu doutorado brincava com meus amigos que, proclamada a aprovação, abrir-se-ia um portal de luz e um etê do outro lado, me chamaria, "venhaaa... venhaaaa". Não, não há portal de luz, nem nada muito especial depois da colação de grau. O que há é só vocês. E isso já é muita coisa. Vocês com suas ansiedades, seus problemas, a consciência dos limites, suas dúvidas, seu talento, sua disciplina, sua vontade de fazer as coisas acontecerem, sua perseverança.
O que vocês recebem agora é um diploma. Um papel com muitos significados. E talvez o maior deles seja que vocês têm capacidade de cumprir prazos, tarefas, objetivos e, no caminho, crescerem intelectualmente, como seres críticos e cidadãos que entendem sua relevância para a sociedade.
O nosso trabalho para chegar até aqui, o da Rio Branco, se encerra hoje. Mas a tarefa continua. E agora é só com vocês.
Talvez a partir de agora comece a fazer mais sentido toda a exigência, todo o rigor, as tarefas, os exercícios, os projetos, as provas, enfim, aquilo que os alunos costumam chamar de "inferno". E vocês verão como é engraçado, como a gente muda de perspectiva, dependendo da situação.
Hoje vocês estão mudando de perspectiva. E o que vocês querem da Rio Branco? Que ela continue uma escola empenhada em fazer o melhor, que exija mesmo, que não dê diplomas a qualquer um, porque afinal das contas, é assim que o seu próprio diploma vai valer mais.
Eu vou levar essa marca para toda minha vida. No meu currículo. Na minha memória. Na minha emoção de ter tido vocês como meus alunos. Vocês, a partir de agora, são responsáveis pela qualidade do que fizerem. Vamos combinar: é um acordo que nos unirá, todos nós aqui, para sempre. Eu faço o melhor que posso. Vocês fazem o melhor que podem. E isso será bom para todos vocês, quando disserem que eu fui seu professor. E para mim será muito importante, saber que um dia dei aulas para vocês. Ninguém pode deixar essa peteca cair.
Tem um aluno que vocês nem conhecem, do primeiro ano da Rio Branco, que nesse instante está sentado numa das cadeiras de uma certa sala espelhada, vendo aula, respondendo chamada, ou na fila da cantina, que confia muito em vocês.
Eu também confio demais em vocês.
Parabéns e muito obrigado pela oportunidade que me deram de vir aqui e desejar boa sorte, queridos alunos, queridas alunas.