sábado, 26 de fevereiro de 2011

O discurso do paraninfo



Meus caros colegas, pais e convidados. Queridos alunos e alunas.

Vocês não têm idéia de como fiquei orgulhoso e feliz por ter sido escolhido o paraninfo da turma de Rádio e Tevê, Publicidade e Propaganda e Editoração das Faculdades Integradas Rio Branco. É um privilégio participar desta noite especial e uma honra por representar todos os meus colegas que estiveram com vocês ao longo da jornada de quatro anos. Mas esta também é uma oportunidade pessoal. Vocês criaram a chance para que eu me despedisse da instituição que fez parte de minha vida – e vice-e-versa -  nos últimos nove anos.

Como quase todos vocês sabem, desde dezembro não faço mais parte do quadro de professores das Faculdades. E confesso que, dois meses depois de sair, já estou com muita saudade da Rio Branco: uma escola séria, correta, empenhada que, tenho certeza, vocês guardarão para sempre com carinho e com orgulho. Para vocês terem uma idéia, até da secretária da sala dos professores, a Édila, eu sinto saudade!

Por sinal, hoje é sexta-feira e são nove da noite. E vocês não estão em sala de aula! Não é legal? Mas neste instante lá no campus estão os professores, coordenadores, a Édila e o pessoal de apoio, todo mundo está trabalhando... até o pessoal da cantina está lá, fazendo o melhor que pode.  Podia ser um pouco mais depressa, é claro.

Lá também estão outros alunos. Alguns começando, outros concluindo. Todos eles cumprindo um ciclo que para vocês acaba oficialmente hoje.

Vocês conseguem lembrar de quando chegaram na faculdade? Aqueles que tiveram aula comigo no primeiro ano devem ter me ouvido dizer o seguinte: "aproveitem estes anos, que serão os melhores de toda a sua vida". Aproveitaram? Espero que sim. Porque esse tempo passou e vocês mudaram. Não, vocês não têm noção de como mudaram. Perguntem pra sua família, para seus amigos, para seus namorados. Eles dirão que vocês mudaram fisicamente, espiritualmente, intelectualmente. Alguns se apaixonaram, alguns viajaram, outros casaram, muitos arrumaram empregos, mudaram de penteado, perderam cabelo, engordaram, emagreceram, compraram um carro, aprenderam a dirigir, foram pra academia, mudaram o conceito sobre tantas e tantas coisas. Todos fizeram amigos que serão para sempre. E tenho certeza que vocês nem se tocaram que nos primeiros dias de aula, lá em 2007, esses caras aí, que estão do seu lado neste palco, eram completos estranhos para vocês.

Também aposto que vocês não prestaram atenção em de como o mundo mudou nesse tempo.

Nessa época, em 2007, ninguém imaginava que o Obama seria o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Muito menos que a Dilma seria a primeira mulher presidente do Brasil. Nem que inventariam esse tal de Ipad. Não prevíamos a extinção da exigência do diploma de jornalismo. Nem que falaríamos de coisas como o twitter ou o facebook. Era a época do orkut, lembram? Pouco se discutia sobre tv on demand, sobre a decadência da propaganda tradicional, sobre as novas formas das pessoas lerem, se informarem e se entreterem. Rede social era provavelmente só uma forma de descansar na varanda de casa.

Na hora em que escrevia esse texto fiquei imaginando o que vocês sentiram em dezembro, depois que leram as suas derradeiras notas no sistema. Pelo que conheço de vocês, meus alunos, deve ter ocorrido uma mistura de comemoração, alívio e vontade de ajuntar textos, cadernos, pendrives e fazer uma fogueira no quintal ou na área de serviço. Esta sensação de liberdade, de dever cumprido, de etapa vencida é a que predomina instantaneamente. "Acabou", muitos pensaram. E estou aqui para dizer que vocês estão enganados. Acabou nada, galera.

Uma formatura é muita coisa. Mas também é quase nada. Não é um documento oficial que fará vocês serem diferentes. Vocês é que devem saber que estão diferentes.

Deixem-me contar uma história: quando terminei meu doutorado brincava com meus amigos que, proclamada a aprovação, abrir-se-ia um portal de luz e um etê do outro lado, me chamaria, "venhaaa... venhaaaa". Não, não há portal de luz, nem nada muito especial depois da colação de grau. O que há é só vocês. E isso já é muita coisa. Vocês com suas ansiedades, seus problemas, a consciência dos limites, suas dúvidas, seu talento, sua disciplina, sua vontade de fazer as coisas acontecerem, sua perseverança.

O que vocês recebem agora é um diploma. Um papel com muitos significados. E talvez o maior deles seja que vocês têm capacidade de cumprir prazos, tarefas, objetivos e, no caminho, crescerem intelectualmente, como seres críticos e cidadãos que entendem sua relevância para a sociedade.

O nosso trabalho para chegar até aqui, o da Rio Branco, se encerra hoje. Mas a tarefa continua. E agora é só com vocês.

Talvez a partir de agora comece a fazer mais sentido toda a exigência, todo o rigor, as tarefas, os exercícios, os projetos, as provas, enfim, aquilo que os alunos costumam chamar de "inferno". E vocês verão como é engraçado, como a gente muda de perspectiva, dependendo da situação.

Hoje vocês estão mudando de perspectiva. E o que vocês querem da Rio Branco? Que ela continue uma escola empenhada em fazer o melhor, que exija mesmo, que não dê diplomas a qualquer um, porque afinal das contas, é assim que o seu próprio diploma vai valer mais.

Eu vou levar essa marca para toda minha vida. No meu currículo. Na minha memória. Na minha emoção de ter tido vocês como meus alunos. Vocês, a partir de agora, são responsáveis pela qualidade do que fizerem. Vamos combinar: é um acordo que nos unirá, todos nós aqui, para sempre. Eu faço o melhor que posso. Vocês fazem o melhor que podem. E isso será bom para todos vocês, quando disserem que eu fui seu professor. E para mim será muito importante, saber que um dia dei aulas para vocês. Ninguém pode deixar essa peteca cair.

Tem um aluno que vocês nem conhecem, do primeiro ano da Rio Branco, que nesse instante está sentado numa das cadeiras de uma certa sala espelhada, vendo aula, respondendo chamada, ou na fila da cantina, que confia muito em vocês. 

Eu também confio demais em vocês.

Parabéns e muito obrigado pela oportunidade que me deram de vir aqui e desejar boa sorte, queridos alunos, queridas alunas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A perda da máquina fotográfica.


Antes de continuar a ler, você sabe onde estão sua máquina e seu celular, neste exato instante?

Bem, o assunto aqui é nossa fixação pelo registro de imagens. A máquina fotográfica particular, portátil e razoavelmente descomplicada, é uma invenção típica da modernidade e da sociedade de consumo. Quando em 1888 o norte-americano George Eastman lançou um dispositivo capaz de fazer com que leigos capturassem e fixassem imagens, na verdade criava uma nova indústria e mudava um pouco de nosso modo de entender e nos relacionarmos com o mundo. Em cinco anos, 90 mil Kodaks baratas foram vendidas , na mesma época em que surgiam o cinema, o rádio e o fonógrafo.

Meu doutorado é sobre a imagem, por isso pesquisei um bocado sobre como nossas formas de estar no mundo escoram-se na capacidade de produzir formas de representação visual, tanto da realidade factual quanto da imaginada. Tem uma citação do Ramesh Raskar, pesquisador e professor do Media Lab do MIT, que acho resumir bem o estado das coisas: "não se trata da mera expansão quantitativa das imagens. O fato novo é o relacionamento das pessoas baseado cotidianamente no registro e na ânsia de consumir imagens". Por isso cada vez mais ipads, celulares, facebooks e a internet facilitam esse trânsito de fotos capturadas de maneiras simples e descomplicadas, inacessíveis à imaginação de nossos antepassados.

Outro dia na festa de Bodas de Prata de amigos fiquei contemplando o paradoxo deste mundo do registro: enquanto o casal renovava seu compromisso de amor, em uma cerimônia religiosa tocante e sincera, fotógrafos e videografistas tomavam a frente, dando as costas para as pessoas que estavam ali para presenciar. Ou seja, no momento mais tocante da cerimônia, todos vimos apenas os ternos alugados dos profissionais empenhados na captura das preciosas imagem. E, se os que estavam ali eram os que respeitam e compartilham a felicidade dos esposos, para quem então eram produzidas estas fotos e vídeos? Para eles mesmos? Para os que não estavam ali? Para os que estavam ali reverem?

Escrevo sobre este tema depois de superar o luto pela perda (ou roubo, sei lá) da minha máquina fotográfica Nikon Coolpix no penúltimo dia de minhas férias na Bahia. Quando nossa família se deu conta da perda, mais à noite no quarto do hotel, grande comoção se abateu sobre todos nós. Na memória da máquina estavam fotos preciosas, momentos que escolhemos entre tantos para guardar e rever. Fotos de nosso trabalho (meu e dos meus filhos) pintando paredes. Das festas do final de ano. De minha viagem à Alemanha. Da própria viagem, como as fotos que tirei da moqueca na Barraca da Maria Nilza na praia de Guaiú . Dos meninos na piscina, dos meus barquinhos revistos no rio João de Tiba. Que tristeza! Reviramos todos os lugares do quarto, conversamos com gerentes, funcionários, hóspedes, ofereci recompensas, voltei à vila onde estivera na parte da manhã. Nada. Nem traço. A sensação foi horrível, além da perda material e afetiva, também da violação de nossa vida nas mãos alheias.

No filme Blade Runner (e também no livro do Philip K. Dick que baseou o filme do Ridley Scott, "Do androids dream of electric sheep?") há esta discussão sobre implantes de afeto nas mentes, baseados em associações a imagens. Os replicantes andróides do filme de ficção científica, criados por uma corporação, não sabem direito se são humanos ou máquinas da biotecnologia e têm especial afeto por fotos que demonstrar suas existências como seres. Com as fotos eles têm história, têm memória, têm referências. As imagens estão ali para comprovar. As minhas estão em algum lugar da Bahia. Cuidem bem das suas.

P.S.: Alguém por acaso viu ou encontrou uma Nikon Coolpix pretinha, com minhas fotos. Se encontrar, eu recompenso. A última vez que a vi foi em Santo André, na Bahia.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Todos os comerciais do Super Bowl


Outro dia dona Esposa passou aqui na frente do computador e me disse: "tanta coisa pra fazer, e você aí, vendo filminho?". Difícil explicar que parte de minha profissão é ficar atualizado sobre uns filminhos que muitas vezes consomem milhões de dólares para sua produção e veiculação. E, no caso, dos comerciais do Super Bowl, trata-se do suprassumo da produção publicitária mundial, aguardada quase tão intensamente quanto a audiência espera pra ver brucutus se pegando naquele campo esquisito com um garfo espetado de cada lado, vá entender!

Bem, pra quem gosta de produção publicitária, o endereço pra ver todos os comerciais exibidos no Super Bowl 2011 é o seguinte: http://adage.com/superbowl/article?article_id=148677

Não quero atrapalhar a sua própria experiência, mas vou lá dizendo  do que gostei mais: os comerciais do Doritos pela idéia (especialmente o do dedo), o Cowboy da Budweiser,  a animação do comercial do Beetle, a qualidade da cinematografia do comercial da Chrysler (de longe o apelo emocional mais interessante de todos), o comercial da Pepsi do primeiro encontro e a peça da própria NFL promovendo a importância cultural do evento. Espere até o final para ver a piada. Para entender o caminho da comunicação publicitária recente: quase todas as peças propõem o humor como gancho e serve cada vez mais para a função entretenimento da propaganda, como bem comentado pelo Bob Garfield na coluna pós-evento.  Alguns comerciais péssimos (para o tanto de investimento feito): o da e-trade, dos bebês, provavelmente idéia do sobrinho estagiário do dono da empresa ("vamos usar um bebê? todo mundo presta atenção em bebês!") e o da Groupon.

Se você for lá ver, aproveite e comente ao que achou aqui.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Meu caro Wandyhkleisson


Tomo mundo tem seu crítico inseparável. O Pinóquio tinha o grilo falante. O Batman tinha o Alfred. O Lula tinha o Diogo Mainardi. Eu tenho o Wandyhkleisson.

Não sei de onde ele apareceu, quais as conexões que nos aproximam, mas o Wandy (acho que posso chamá-lo assim), está sempre de olho no que escrevo no blog, lê os comentários e sempre sapeca críticas piores que as da minha mulher, com a desvantagem que ele não me ajuda a pagar as contas aqui de casa (a parte do sexo, é claro, melhor nem pensar). Precisei até tirar alguns desses comentários dos posts (que pena, seriam úteis para ilustrar meu ponto de vista) porque, sinceramente, não é muito agradável manter um blog para se chamado de marqueteiro pequeno-burguês, falastrão, leitor da Veja, revisionista, tucano etc. etc., se bem que ele possa ter razão.

O Wandy parece ser boa pessoa, gosto de verdade dele, apesar de achá-lo um pouco iludido. Pelo que li, ele é daqueles que ainda acreditam que os dólares encontrados na cueca do assessor do Genoíno eram realmente para pagar despesas de campanha. E também acha que o Lula é um ex-operário de esquerda, sem perceber que nos últimos 40 anos o companheiro tornou-se um político profissional com excelente capacidade de comunicação, mas aferrado às benesses do poder como todos os demais, que adora cartão corporativo, charuto, avião particular, evidência na mídia e amizade com o Eike Batista.

Por exemplo da encanação comigo (como se algo eu representasse de importante nessa engrenagem...): no dia da eleição presidencial o Wandy me mandou uma extensa mensagem dizendo que ia votar, orgulhoso, na mulher que agora nos dirige, que representava a vitória do presidente pau-de-arara (nas suas próprias palavras) contra a elite tucana, formada por doutores que tinham levado o Brasil ao atoleiro, do qual a companheirada tinha vindo nos salvar. Wandy não percebeu direito que ia votar numa egressa do brizolismo, que tem lá alguns probleminhas éticos com um pretenso diploma de doutora em economia pela Unicamp. Ou seja, uma belíssima representante do status quo, que aos poucos vem se implantando nas nossas instâncias de pudê, diga-se na administração da Previ, nos Tribunais de justiça, nos órgãos reguladores do mercado financeiro. Esforço esse mancomunado com figuras dignas e empenhadas de nossa vida, tais como Zé Sarney, Edson Lobão e Michel Temer.  

Wandy, para sua alegria, devo reconhecer que tenho gostado da administração da Dilma, com a vantagem que ela não nos aborrece falando baboseira na mídia todo dia e é muito mais simpática que o Zé Serra (se isso pode ser considerado um elogio).

Entretanto, fico curioso para saber a opinião do Wandyhkleisson sobre um fato recente de nossa vida republicana.  Wandy, o que você achou da notícia de que algumas semanas antes da eleição o Senor Abravanel tenha visitado o Duce de Garanhuns e o encadeamento posterior dos fatos? Refiro-me  às semanas seguintes nas quais o Jornal do SBT tenha sido o único a noticiar com ênfase a tal da "bolinha de papel" na testa do Serra. Também gostaria de saber o que você achou sobre as instâncias feitas pelo Banco Central para que o Fundo Garantidor de Crédito salvasse o Banco Panamericano, sem que o referido apresentador tenha perdido qualquer parte de seu patrimônio? Um rombinho aí da ordem de 4 bilhões de reais. São ilações, talvez desprovidas de sentido, concordo, mas há algo que cheira mal na res publica, que transcende o modesto blog do professor Josmar.
 
Pergunto por esse canal, porque o único probleminha que sinto nesse meu relacionamento com o Wandy é sua falta de nome e sobrenome. Não temos, digamos assim, contato mais efetivo. E eu não me sinto confortável ao falar com personalidades etéreas, típicas dessa nova era em que "o aqui e o agora" são diferentes de como me acostumei no passado. 

A falta de nome e sobrenome nas coisas que se escreve, nos pensamentos que se têm, é uma das pragas dessa modernidade mediada por elétrons. Eu ainda não acho que possamos prescindir tão rapidamente de coisas escritas a tinta em coisas que durem, mesmo que seja só uma folha de papel. Wandy, concorda que fica difícil? Como argumentar, como discutir com alguém que pode falar o que quiser, sem a pena da responsabilidade, mesmo afetiva, pelo que disse? Eu, da minha parte, preferia falar com alguém que tivesse um nome. Prosaico, Antônio, por exemplo. Ou então mais complicado, como Lafayette, cheio de ipisilones e tês duplos. Mas pelo menos um crítico para chamar de meu, com algum nível de intimidade. Wandyhkleisson, definitivamente, não dá.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Uma escola chamada Rio Branco. Um professor chamado Josmar.


Era uma vez um sujeito de 39 anos que tinha perdido um filho e estava em depressão. Tinha fechado sua agência de propaganda, que funcionava há 14 anos. Estava tão atordoado que ficava jogando paciência no computador por horas a fio. Tinha entrado no mestrado, buscando no conhecimento algo como a alegria de voltar a viver. Tinha bons motivos para isso: seu segundo filho acabara de nascer. E a vida continuava, como sempre continua.

Um dia o telefone tocou e uma ex-amiga pediu seu currículo. Precisavam de um professor de produção publicitária em áudio numa nova faculdade, ligada ao Colégio Rio Branco. Ninguém contou para ele que o novo campus não era em Higienópolis, mas lá para os lados da Lapa de Baixo. Pouco importava. Era um compromisso de apenas duas noites por semana. E para quem procurava a vida acadêmica era um bom começo. A área era a sua. A instituição era séria. 

Nessa ocasião, em 2002, nasceu um certo professor Josmar. Na verdade, ele nunca tinha se preparado para esta vida profissional específica, com tantas responsabilidades. Tanto que no seu primeiro dia de aula levou um arquivo powerpoint com uns 72 slides. Chegou lá e recebeu a lista dos alunos com apenas 3 nomes. Na sala de aula, sua primeira aula, encontrou apenas um deles (Frederico Ferrari Filho) e sua primeira experiência foi uma aula particular. Ali também descobriu que com 72 slides ele daria um curso de quatro meses, se soubesse administrar bem o tempo.

Quase 9 anos depois, no dia 18 de dezembro de 2010, esse tal de professor Josmar recolheu os exames da turma de Pesquisa de Marketing, fechou a lista de chamada no computador, virou suas costas e saiu dali com uma certa angústia. Uma tristeza difícil de explicar. A história dele e desta escola se separavam, em caminhos distintos e provavelmente irreconciliáveis.

Ao atravessar a catraca e passar o crachá, ele deixava muitos alunos na memória, certamente bem mais que 1.000. Deixava as conversas da sala dos professores, a pressão para chegar no horário em dias de congestionamento, algumas conquistas, muitas alegrias e muitas frustrações também, porque as histórias nem sempre são felizes em todos os aspectos e em tanto tempo. Deixava um grande pedaço da sua vida: seus filhos crescendo (sim, nascera um terceiro, enquanto ele era professor ali). Deixava o mestrado completo, o doutorado já realizado. Quanta mudança: o tal sujeito agora já preenchia nas fichas do hotel, no espaço reservado para a profissão, a seguinte palavra: "professor".


Naquele dia de dezembro, esse quase senhor de 47 anos entrava em seu carro e guiava pela Marginal para casa, sabendo que esse era um caminho que não voltaria a ser feito. Deixava seu coração naquela escola que cresce, que faz puxadinhos para colocar mais cadeiras, mais salas de aula, porque ganha novos alunos e novos cursos. Não há mais listas com apenas 3 valorosos gatos-pingados. Há prêmios, há reconhecimento, há competência (porque os outros professores que ficaram lá, amigos deste que se vai, continuarão fazendo o melhor que podem, com aquilo que têm).

Muito obrigado, querida escola que deu a experiência que formou este professor. Obrigado, Faculdades Integradas Rio Branco. Torcerei por vocês.