sexta-feira, 8 de julho de 2016

CADÊ O TROCO?

Meu pai era um cara legal. Simples. Muitas vezes raso. Mas um cara legal, que dirigia um caminhão.
Sua preferida era minha irmã. Nunca vi meu velho chorar tanto quanto no dia em que conduziu minha irmã, igreja adentro, no seu casamento.
Lembranças específicas: ele me dando tapas na coxa, enquanto guiava. Sua paixão por Nossa Senhora Aparecida. O rádio sempre ligado no futebol, enquanto ele dormia no domingo à tarde  Ele me chamando de  "cabeludo" e  "secretário" no meio dos amigos, quando tomava umas pingas no bar. Ele me oferecendo a caipirinha para eu colocar o dedinho e experimentar, com 7 ou 8 anos de idade. Meu velho era um cara legal, na sua simplicidade.
Lembro de suas mãos com as veias saltadas, seu prazer em fumar compulsivamente,
Definitivamente não sou meu pai. Sou mais parecido fisicamente com minha mãe. E talvez, a contragosto, eu seja muito parecido com ela.
Corte da cena:  meu filho mais velho é minha cara. Ou seja, fisicamente parecido com minha mãe, por consequência. Hoje cheguei em casa e pedi para que ele fosse na padaria comprar pão e outros frios para o lanche da noite. Sua pergunta: "posso comprar um docinho?". Estendi a nota e disse: "pode".
Que coisa, o tempo. Meu pai, minha mãe, eu, meu filho indo comprar docinhos. E então ele volta e eu pergunto: "cadê o troco?". Minha mãe pergunta dentro de mim. Meu pai faz coro. Todos os três perguntamos cadê o troco? Ele me estende as notas de dinheiro e o cupom fiscal.
Tão simples. Tão complexo, as gerações todas falando naquele gesto. Meu pai com sua caipirinha, minha mãe com o litro para que eu fosse buscar óleo na mercearia. O tempo, esse brincalhão.
Ou, como li num post do instagram de um ex-aluno:  "a vida é uma doença mortal que transmitimos por meio do sexo".

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