Eu e meu filho de 8 anos gostamos de ver jogos do Santos no estádio, desde faz tempo, desde quando o centroavante era o Kléber Perde-Gol Pereira, o que significa que não somos adeptos de qualquer oba-obismo. Gostamos do nosso time, na alegria e na tristeza. É claro que, como consumidores-clientes do entretenimento e da paixão, ficamos ainda mais satisfeitos quando vemos shows como o do domingo passado. Ele, por exemplo, perdeu o terceiro gol do massacre (Santos 9 X Ituano 1) porque estava fazendo xixi. Mas teve pelo menos mais uns 6 pra ver e se divertir.
Um fato da jornada esportiva de domingo me chamou a atenção e me motivou a escrever no blog, para servir como exemplo das relações éticas, de memória e de formação de valores de um indivíduo desde a infância.
Há umas rodadas atrás (bem lá atrás, dia 17 de janeiro, Santos 4 x Rio Branco 0) fomos ao Pacaembu e compramos pipoca. Na hora de pagar eu tinha só uma nota de R$ 20 e a pipoqueira não tinha troco. Ela ficou meio atrapalhada e me disse: “olha, vou ali trocar e depois trago o dinheiro”. Levou minha nota. E eu fiquei ali esperando meus R$ 12 de troco (sim, uma pipoca em estádio custa R$ 4). Passaram-se 10 minutos. Nada. Passaram-se 20 minutos, comecei a pensar no troco como “perdas a contabilizar”. Pois mais uns 5 minutos se passaram e lá veio nossa pipoqueira, meio humilde, pedindo desculpas, com meus R$ 12 na mão. Falei assim para o meu filho: “Viu só? Ela é honesta. Demorou, mas trouxe nosso dinheiro”.
Corta a cena para o dia 21 de março. Felipe e papai no mesmo setor do estádio. Lá no meio daquele monte de gente meu filho me falou assim: “papai, olha lá a pipoqueira honesta”. Ele a reconheceu de longe, talvez de olho no pacote de pipocas depois de ter tomado seu sorvete regulamentar. Chamei a moça. Perguntei: “você se lembra da gente? Outro dia você ficou de trazer o troco, demorou, mas trouxe”. Ela confessou, meio tímida: “não lembro, não senhor”. Disse eu: “Pois meu filho se lembrou de você. Ele me disse: papai, olha lá a pipoqueira honesta. Por isso vamos comprar de novo contigo”. Vi que ela ficou confusa e mais sem jeito ainda. Falou para o Felipe, meio emocionada: “Obrigado, garoto. Não é todo mundo que traz o troco de volta, verdade”. Compramos pipoca a extorsivos R$ 4 o pacote. Mas acho que meu filho ganhou uma importante lição para a vida e desenvolveu, mesmo que inconscientemente, um valor que gostaria que ele passasse para os meus netos, se um dia eu tiver esse privilégio de ver minha descendência no Pacaembu ou na Vila gritando Santooooooooos! (e, se eu posso pedir mais coisas ainda, vendo esse nosso time do futuro marcando 9 gols).
Um comentário:
Garoto de sorte por ter uma pai como o senhor e de conhecer pessoas como a pipoqueira.
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