quarta-feira, 5 de maio de 2010

O Editor! O Editor!

Todos os meus alunos de Produção Publicitária em TV e Cine sabem que um lugar que adoro é a ilha de edição. Eita lugar mágico, com máquinas e ar refrigerado de quebrar ossos, um sujeito meio corcunda sentado em meio a fitas e gravadores, computadores e imagens. Sei editar, mal e porcamente, e talvez até por isso admire ainda mais o trabalho desses sujeitos anônimos que dão forma final a peças publicitárias, filmes hollywoodianos e, inclusive, vídeos de batizado apresentações para o pessoal de RH. O Editor tem uma relação íntima com o som e com a imagem em movimento e, quando competente, as organiza com cola feita de sensibilidade e emoção. Em muitas peças que vejo na tevê e no cinema, tenho vontade de clamar: O Editor! O Editor! (de quem raramente sabemos o nome).


Segunda-feira depois daquele meu check-up para as coronárias, que foi o jogo do Santos no Pacaembu, cheguei em casa na hora do almoço a tempo de ver só o finalzinho do Globo Esporte. Confesso que me tornei fã do Tiago Leifert, depois de acompanhar um início meio claudicante, perneta total, na implantação de uma proposta para um programa de esporte (e futebol!) que queria ser diferente dos demais, antenado na linguagem e no estilo da molecada, audiência majoritária e disponível na hora do almoço. O “novo” Globo Esporte que vai ao ar só para São Paulo, do qual o Tiago é editor chefe começou no ano passado, muito mal, com o apresentador sem saber onde colocar as mãos direito, sem saber como se movimentar no cenário. Mas aos poucos ele foi ganhando espaço, domínio e naturalidade. Hoje é sem dúvida a melhor coisa do jornalismo esportivo e acentua diferenças, explicita como são patéticos esses programas em que senhores gordos, por trás de bancadas, esbravejam e gesticulam, sem qualquer graça, num formato que parece estar há séculos petrificado na tela da TV Gazeta. Com certeza uma das maiores qualidades do programa, além da criatividade das pautas, a irreverência e o bom humor no tratamento de coisas chatas como jogos que não valem nada, são as edições de imagens das matérias.
Pois então, voltemos ao início dos comentários. Na segunda feira, depois de deixar meus filhos na escola, só consegui ver o finalzinho do programa, dois minutos do que me pareceu ser um brilhante vídeo para o encerramento do campeonato paulista. A matéria mostrava uma música disco, anos 70, e a letra: dance with me, com um pout-pourri das apresentações johntravoltianas de Robinho, Neymar, Ganso, Madson e companhia. No mesmo dia comecei a procurar a matéria na internet e no youtube e nada aparecia. No dia seguinte o site globoesporte.com disponibilizou o material. Veja em: http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Santos/0,,MUL1586168-9874,00.html. Alunos: apreciem o trabalho de um grande editor, pois se trata de uma lição profissional. Santistas: vejam e arrumem um jeito de baixar e guardar, tenho certeza que vocês vão se emocionar e muito. Torcedores de outros times: me perdoem, mas esse vídeo é a prova irrefutável de que o Santos faz bem para o futebol e que torcer contra essa molecada, desejar que o Santo André seja campeão, é crime de lesa-pátria, já que grande parte do que faz o Brasil é o reconhecimento do futebol bem jogado. Palmas para o editor: amigo nem sei seu nome, mas que trabalho soberbo você fez. Vou usá-lo em aulas e aí está seu maior mérito: sua matéria servirá para ensinar futuros alunos sobre o que é a competência da sua profissão: provocar emoção, riso, pensamento; documentar, marcar, estabelecer em pouco tempo, minutos, uma história que demorou meses para ser contada. Humildemente, aceite meus parabéns.

***

Queria aproveitar para contar uma história profissional minha na Band. Uma vez propus ao pessoal da Rádio Bandeirantes fazer um vídeo sobre o futebol no rádio, com o propósito de usar em vendas, em apresentações, em eventos. Confesso que parte dessa estratégia tinha ver com minha paixão por transmissões esportivas no rádio, que herdei do meu pai e seu radinho de pilha. No fundo o que queria fazer era um documento sobre como se faz uma transmissão esportiva, para mostrar, demonstrar e guardar. O Carboni, diretor geral da rádio, aprovou e toda a equipe da RB se envolveu. Escrevi um roteiro bem legal, que começa no dia do jogo, com a equipe indo para o estádio puxar cabos, instalar equipamentos, depois mostra o Silvério e o Mauro Beting chegando e se preparando para trabalhar, documenta o trabalho dos repórteres em volta do estádio (no caso era um Santos e Corinthians), mostra a relação entre o pessoal da técnica e da retaguarda durante a transmissão. Colocamos uma câmera na cabine, uma em volta do estádio e outra no estúdio do Morumbi, com o Sérgio Patrick e o Zaidan acompanhando os resultados da rodada (eu fiquei lá no estúdio, no dia das gravações). O vídeo final ficou muito bonito, especialmente pelo trabalho do editor (e eu nem sei o nome dele). Ficou emocionante, divertido, plástico. E aumentou em muito a auto-estima do pessoal da RB, que assistiu sua apresentação na redação, todos emocionados. O Carboni me disse que foi a primeira vez que gravaram em vídeo o Silvério gritando um gol. Pois depois, na ilha de edição, quando apresentei para o vice-presidente da Band (dessa figura é melhor, realmente, esquecer o nome), o talzinho me disse: “para que serve isso? Para vender? Para mostrar para alguém? Isso aqui é uma porcaria, dinheiro jogado no lixo”. Quando vi o material do Globo Esporte lembrei do vídeo da RB e sorri de satisfação em saber que marcas se constroem com emoção, com subjetividade, com aspectos mais profundos do que um mero desfile de gráficos e vantagens. Longa vida e sucesso aos bons editores e àqueles que têm coragem de ousar com o som, com a imagem e com o movimento. Como Neymar, Ganso, Robinho e companhia. Let’s Dance!

2 comentários:

Daniel disse...

Nossa muito bom mesmo!!
Nem parece que foi feito pra passar na TV, né?

Unknown disse...

Professor, que trabalho emocionante!